Já repararam que a cada dia que passa o mundo se divide mais e mais em grupelhos de bebês chorões, adolescentes e adultos com idade mental de uma criança de 06 anos que senta no chão da loja e chora pro papai e pra mamãe exigindo aos berros um brinquedo novo ou um doce porque lhe é de direito? E o pai ou a mãe constrangido com o berreiro em público da criança, aos olhares atenciosos de quem passa, acaba atendendo ao reclame de seu filho mimado. Não? Não mesmo? Pois bem… senta que lá vem processo… ops, senta que lá vem história.
Grupelhos autoproclamados “vítimas da sociedade” costumam levantar muitas bandeiras, na maioria das vezes (senão sempre) sem sentido algum, afinal como dizia Ayn Rand: “a menor minoria na Terra é o indivíduo. Aqueles que negam os direitos individuais não podem se dizer defensores das minorias”.
A quem defenda transporte gratuito pra mulher de preso, pra estudante, pra aposentado, pra índio (guarani-kaiowá do Leblon). A quem defenda cota em concurso público, universidades e no legislativo para quem possui descendência africana. Um exame de DNA, de história ou de arqueologia provaria que qualquer um afinal se encaixaria nesse perfil, pois o Homo Sapiens surgiu há cerca de 350 mil anos na região leste da África. Ah não, tem que ter muita melanina na pele, diria um cotista, tudo bem, então como seria? Uma banca avaliadora ao estilo do 3º Reich faria uma análise da quantidade de melanina na pele, ou quem sabe, uma comissão de frenologia possa avaliar os crânios dos candidatos para dizer: esse é afro puro sangue, esse outro não.
Mas as cotas não são monopólio racial apenas. Existem as cotas para mulheres, cotas para homossexuais, e por que não irmos além, é sabido que a torcida do Oeste de Chapecó (clube da terceira divisão catarinense) é considerada a menor torcida do mundo, que tal cota para os micro-times na 1ª Divisão do Brasileirão, afinal é preciso representar os menos favorecidos, somente os times de grandes torcidas podem aparecer na TV em grandes estádios assinando contrato com grandes patrocinadores. Sendo assim quem sabe o Oeste de Chapecó não assina um contrato com a Nike?
E não para por aí, a ânsia por privilégios dos “menos favorecidos” que busca tornar nossa sociedade mais igualitária costuma levantar muitas bandeiras: desconto de 50% para quem fez redução de estômago, cota de 25% para cardápio vegano em restaurante (mesmo sendo churrascaria), cota de tela no cinema e TV obrigando a exibição de filmes nacionais (muitos de gosto duvidosos) indo de encontro à lei da oferta e da procura do público que mesmo pagando nem sempre pode escolher o que quer, é preciso enfiar goela abaixo da gente filmes como “Idade da Terra” de Glauber Rocha, nunca viu? Sorte sua, precisei ver para escrever meu próximo livro que sai no início do ano que vem, até hoje tenho vontade de construir uma máquina do tempo e voltar até o dia em que apertei o play para ver tamanha cracolândia mental (será que posso dizer isso sem ser processado de novo?).
Mas entre tantas e tantas exigências de privilégio, uma que já está pra lá de avacalhada é a tal da meia-entrada. É uma espécie de determinação que obriga shows, teatros e cinema, a cobrar a metade para uma categoria específica: o estudante. O argumento é de que estudantes precisam aprender mais, e como muitos não trabalham precisam ir ao teatro, cinema e shows… Sim, porque quem estuda biologia, por exemplo, precisa de forma empírica observar o Pabllo Vittar rebolando de tanguinha e entender que nem sempre os meninos são meninos e as meninas são meninas, e que aquele ser não XX e nem XY consegue enterrar no poço mais profundo da história o legado de cantores gays afinados como: Rob Halford, Ney Mato Grosso e Freddie Mercury. Pabllo Vittar lacra mas não canta.
De volta a questão da meia-entrada, e deixando de lado a opinião musical, afinal, opinião é que nem cu, todo mundo tem, uns dão e outros não, e isso pouco me importa. O problema da meia-entrada é que se o promotor do evento (que pode ser um show, uma peça de teatro, um filme em cartaz no cinema) tiver que cobrar a metade dos que possuem a carterinha de estudante, e vamos supor que o que ele esteja promovendo seja algo justamente voltado para jovens e adolescentes com certeza a quantidade de pessoas pagando meia será imensa, sendo assim, para compensar o prejuízo da produção o empreendedor aumenta o preço pra quem paga a inteira o que consequentemente aumentará também para quem paga meia, e não pense que isso se chama ganância, pelo contrário, isso se chama percepção de mercado, afinal, não existe privilégio grátis.
Vejamos um exemplo recente que gerou um conflito entre a UNE e a produção do Lollapalloza, um festival para adolescentes nutella (não gostou, tô nem aí):
A UNE e outras entidades estudantis entraram com uma ação contra o Lollapalooza argumentando que os organizadores do evento estão burlando a lei da meia-entrada. Eles teriam aumentado o preço de todos os ingressos em cerca de 63% em relação ao ano passado. Assim, a metade do valor se aproximaria, de fato, do custo cheio da entrada de 2017.
TUDO IGUAL
Ao mesmo tempo, criaram uma opção para que o preço da inteira não ficasse tão salgado: a “entrada social”, que sai exatamente pela metade do valor para quem doar R$ 30,00 ao Criança Esperança, da TV Globo.
FICÇÃO
Dessa forma, os preços da inteira, substituída pela “entrada social”, e da meia ficaram praticamente iguais. “O valor da meia-entrada virou uma ficção”, diz o advogado Fábio Cesnik, que representa as entidades. No terceiro lote, a inteira sai por R$ 1.750,00, a “entrada social”, por R$ 880,00, e a meia, por R$ 850,00.
ELAS POR ELAS
A T4F Entretenimento, responsável pelo festival, afirma que a última edição do Lollapalooza Brasil teve dois dias e a próxima, em 2018, terá três. “Sendo assim, a meia-entrada para o Lolla Pass, válido para três dias de festival em 2018, não é o dobro do valor de 2017”.
Pois bem, deu pra entender? Agora não para por aí, sempre que se cria um privilégio pra qualquer grupo exclusivo, logo surgirá outro querendo também um empurrãozinho na vida, é a Lei de Murphy vista sob uma ótica liberal/conservadora (objetivista, direitista, reaça, sei lá chame do que quiser).
Há quinze dias, li uma matéria que dizia o seguinte (os grifos são meus):
Projeto que garante meia-entrada aos profissionais de comunicação será votado na Câmara
A Câmara de Vereadores de Aracaju deve apreciar nesta terça-feira, 03, o Projeto de Lei n° 12/2017, da defensora pública e vereadora, Emília Corrêa do PEN (alô alô Patriotas, chamem a atenção dessa senhora), que assegura o benefício de meia-entrada para jornalistas, radialistas e publicitários. Segundo a autora, esse é um pleito antigo das categorias (que tal ampliarmos para revolucionário de redes sociais?).
Segundo Emília, esse Projeto de Lei de sua autoria “é muito aguardado pela categoria dos comunicadores, símbolo da democracia; o projeto amplia o acesso dos profissionais a estabelecimentos e eventos no âmbito de Aracaju”.
“Esse projeto dará aos trabalhadores da comunicação o direito a meia-entrada em teatros, cinemas, praças esportivas, entretenimentos e eventos”, pontuou. Já eu penso que um comunicador que não ganhou um crachá de acesso livre pra cobrir um evento não deve ser alguém relevante certo? Por exemplo um colunista literário indo ver um torneio de MMA equivale a um estudante de matemática que paga meia em um batidão de funk. Espero que entendam aonde quero chegar, senão vamos seguindo.
A defensora pública e vereadora, Emília Corrêa ainda acrescenta:
“É um projeto que avança e valoriza as categorias, irá fortalecer a classe fazendo com que os comunicadores tenham mais orgulho de serem transformadores da realidade social. É de extrema importância para o fortalecimento e reconhecimento da imprensa sergipana”, destacou.
Por fim, Emilia ressaltou que “esses profissionais se dedicam quase integralmente à busca pela melhor notícia, pelo melhor ângulo ou, pelas diferentes versões dos fatos que constroem a história. Essa propositura é uma forma de incentivo às nobres atividades dos profissionais da comunicação”, concluiu.
Como pode ser visto, para todo defensor de privilégios há sempre um discurso bonito, comovente e altruísta que vai de encontro com aquela pequena frase pra lá de conhecida (quase um mantra nacional), porém aberta a múltiplas interpretações por conta de uma orgia de opiniões:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza…
Vou parando por aqui, até porque tem muita gente lutando por tantos outros privilégios enquanto a verdadeira minoria, na figura do indivíduo, luta apenas pela recompensa do seu dia de trabalho obtida em trocas livres, “laissez-faire” meus queridos.
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