ELEIÇÃO NA UFS E O DESAFIO DA RENOVAÇÃO


Profa. Dra Denise Leal Fontes Albano
Prof. Dr. José Aderval Aragão

Este ano a UFS passará pelo processo de “consulta-eleição” para escolha de um novo Reitor ou Reitora. Essa eleição, cujo procedimento passa a ser regido por uma Medida Provisória editada no final do ano passado, levará à formação da lista com os três nomes mais votados na disputa da Reitoria a ser encaminhada para o MEC.

Com essa nova norma, o protagonismo sai dos Conselhos Superiores da instituição – um colegiado com não mais de 100 integrantes que, de fato, era quem escolhia os três nomes da lista – para o conjunto da comunidade universitária, formada por servidores (professores e técnicos) e estudantes. De uma mera possibilidade de ser realizada uma consulta informal entre servidores e estudantes, cujo resultado poderia ou não ser respeitado pelos Conselhos Superiores, a eleição pelos integrantes da comunidade universitária passa a ser obrigatória. São eles que votarão nos candidatos que comporão a lista tríplice que deverá ser homologada pelo Conselho Superior da UFS.

Trata-se de um momento marcante em quase meio século de existência da UFS, quando, após cerca de três décadas de perpetuação de um mesmo grupo no poder, é possível uma efetiva renovação na gestão daquela que é a mais destacada instituição de ensino do estado. Importa elevar a qualidade da educação pública brasileira e sergipana e, nesse sentido, os servidores e gestores da UFS devem atuar nesse concerto em direção à promoção de um ensino mais qualificado.

Acreditamos que o desenvolvimento socioeconômico de um país, o vigor da sua cultura e o potencial inventivo e empreendedor de sua gente dependem da educação qualificada que é franqueada a suas crianças e jovens. Não há projeto de país digno e edificante que não priorize a educação. E são as universidades públicas, enquanto centros de produção de conhecimento e principal espaço de formação de novos professores, as mais importantes indutoras desse projeto (ou deveriam ser).

Ao longo dos últimos anos acompanhamos o declínio da qualidade da educação brasileira, com significativo impacto no campo da educação superior. Muitos jovens desmotivados em seus cursos; a sala de aula usada muitas vezes como espaço de proselitismo político-ideológico; a falta de articulação mais estreita entre o ensino de graduação e a pesquisa; a ausência de projetos e programas mais efetivos de formação continuada de professores; a falta de eficiência na gestão e de maior transparência na aplicação dos recursos públicos nas instituições; a disseminação de uma visão e postura de antagonismo, quando não de explícita hostilidade, ao setor produtivo da sociedade; são apenas algumas questões que demandam um enfrentamento corajoso e consequente, sem mistificações e devaneios passionais, a fim de resgatar o relevante papel que as universidades públicas brasileiras devem assumir nestes tempos.

É induvidoso, por outro lado, que são as universidades públicas que abrigam a maioria dos melhores pesquisadores do país, de onde saem patentes e produtos que contribuem para colocar o Brasil entre as dez maiores economias do mundo, e onde são formados profissionais que ocupam postos de destaque nas mais diversas áreas. O desafio é preservar o que foi conquistado ao longo desses quase dois séculos desde a criação da primeira Instituição de Ensino Superior no país, bem como corrigir equívocos e eliminar erros que refreiam o potencial e afetam a confiança na qualidade das universidades públicas brasileiras.

É com esse propósito que nos lançamos na disputa pela reitoria da UFS. Como única universidade pública de Sergipe e com um legado respeitável em seus 51 anos de existência, é necessário resgatar valores e procedimentos que, de fato, promovam uma UFS renascida, enquanto instituição verdadeiramente comprometida com a pluralidade de ideias, a qualidade do ensino e da pesquisa, a segurança da comunidade universitária, uma gestão mais eficiente, descentralizada e transparente e uma maior integração com o conjunto da sociedade sergipana por meio de ações de extensão que contribuam para o progresso da sociedade e o reforço da cidadania.

Nós servidores (incluindo os aposentados), juntamente com os estudantes, temos o dever, por imposição ética e espírito público, de ajudar nesse processo de enfrentamento dos grandes e complexos desafios que se colocam para a nossa instituição, a fim de corrigir os descaminhos que nos afastam do ideal de uma UFS bem gerida, socialmente responsável, com processos formativos de excelência e com potencial criativo.

O formidável e exponencial crescimento da UFS nos últimos anos permitiu a ampliação de cursos, o aumento de vagas ofertadas, a melhoria da infraestrutura, o avanço da pesquisa e o incremento das nossas atividades de extensão. Essa é uma conquista valiosa e deve ser preservada e consolidada. Por outro lado, todo esse avanço não foi precedido por um adequado planejamento, pois há vários cursos novos sem razoável demanda e com baixo índice de alunos matriculados e a taxa de sucesso em outros tantos cursos vem declinando ao longo dos anos (com a ampla maioria dos cursos formando menos de 70% dos alunos por turma).

Essas são apenas algumas situações que ilustram o quanto uma gestão excessivamente centralizada, por vezes errática e nem sempre diligente na boa aplicação dos recursos públicos, vem comprometendo as grandes potencialidades dos servidores e estudantes da UFS e eclipsando o valoroso legado da nossa instituição.

Ciosos dos desafios que nos esperam e comprometidos em realizar uma gestão transparente, ética, eficiente e descentralizada, submetemos nosso nome à comunidade universitária e ao conjunto da sociedade sergipana. Se os desafios são grandes, maior é a nossa vontade e compromisso de dar à UFS o destino que ela merece e a sociedade sergipana espera.

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