Capitalismo e ecologia são dois seres antagônicos?

O capitalismo é taxado como um sistema ecologicamente insustentável, por necessitar de matéria prima e promover algumas explorações que causam devastações à natureza. Historicamente, essa atribuição até parece justa, uma vez que após a revolução industrial a natureza passou a sofrer maiores impactos das atividades antrópicas. Porém, ainda que com problemas, o capitalismo é o sistema melhor e mais capaz de corrigir tais dificuldades e administrá-las, uma vez que o capitalismo é o sistema economicamente liberal e um sistema “democrático”, onde as pessoas podem muito bem pressionar para a lógica do mercado mudar, ou então, pelo direito à livre escolha, podem continuar comprando um produto (ou à empresa) que causa prejuízos à natureza ou boicotá-lo. É diferente, por exemplo, do sistema socialista adotado pela União Soviética, onde ocorreu o maior desastre nuclear da história (o de Chernobyl). Antes de ocorrer o acidente, haviam muitas reclamações chegando a Moscou sobre muitas mortes e contaminações. Porém, Stalin, que governava na época, dizia que tudo não passava de uma conspiração da Europa capitalista. E se o povo protestasse contra a implantação da usina nuclear de Chernobyl, não teria qualquer sucesso, como sabemos.

A melhor estratégia de promover as causas ambientais e a sustentabilidade é a estratégia econômica, mostrando aos “detentores do poder financeiro” os benefícios econômicos da preservação do meio ambiente. Na verdade, isso deveria ocorrer naturalmente, sendo uma preocupação dos donos de indústria, uma vez que eles necessitam de matéria-prima, o que é um recurso limitado. Então, eles deveriam se preocupar com a sustentabilidade dos recursos naturais explorados afim de garantir a sustentabilidade do seu negócio.

Todo mundo sabe da seca que houve em São Paulo no período de 2013 e 2014, e do prejuízo para a economia nacional que ela trouxe, uma vez que a indústria depende de água para as suas atividades ocorrerem naturalmente, e São Paulo é o centro financeiro do país. E uma coisa que contribui também para a seca é o desmatamento, uma vez que a vegetação tem a sua influência nas chuvas, e na manutenção dos recursos hídricos. Então, por uma questão de bom senso, automaticamente os sindicatos (patronais como trabalhistas) que representam os setores que foram afetados por tal seca deveriam começar uma campanha de reflorestamento na região, e um programa de manejo nas bacias hidrográficas, para manter as chuvas e preservar os recursos hídricos da sua região, o que manteria as atividades que sustentam a nossa economia.

Porém, não bastaria apenas recuperar as florestas, mas também é necessário promover atividades econômicas que dependam da floresta como, o turismo, as indústrias farmacêutica, cosméticas e madeireiras, além das pesquisas científicas, para descobrir a riqueza da biodiversidade local, e seus potenciais. Isto ajudaria a garantir a manutenção das florestas.

Evaristo de Mirandadoutor em ecologia e chefe geral da EMBRAPA monitoramento por satélite, em seu artigo para o Estadão¹ afirma que os agricultores preservam mais vegetação nativa no interior de seus imóveis (20,5% do Brasil) do que todas as unidades de conservação juntas (13%). Bem provável que a causa sejam as exigências legais de aplicação de reserva legal (área de cobertura de vegetação nativa, definida no artigo 12 da lei Nº 12.651/2012) para os imóveis rurais, as quais são: 80% para os situados nas florestas da Amazônia, 35% para os situados em área de cerrado, e 20% nas demais regiões do país. Com certeza, quando os grandes proprietários rurais utilizarem as terras para o manejo florestal sustentável ou para unidades de conservação privadas como, APA (Área de Proteção Ambiental) ou RPPN (Reserva Particular de Patrimônio Natural), mais matas serão preservadas por eles. Uma vez que as florestas se tornam um atrativo para os grandes empresários, eles então investirão na manutenção e recuperação das florestas.

Uma APA (definida no artigo 15 da Lei No 9.985/2000) é “uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais”, que é constituída por terras públicas ou privadas. No Repórter eco da TV Cultura² foi mostrado a APA Bororé Colônia (área de São Paulo, constituída por terras públicas e privadas), onde fica a represa Billings e a Ilha do Bororé, e que foi criada para proteção da mata nativa. A represa é cercada de propriedades privadas, em que, uma delas (o Sítio do paiquerê), conservou boa porção de Mata Atlântica, gerando uma temperatura mais agradável no ambiente, além de influenciar na qualidade da água, e gerar um espetáculo natural, onde há uma concentração de aves, que acabam formando um ninhal nas árvores, que até moradores tiram um tempo para observá-las, e que transformou o sítio em um ponto turístico, atraindo até escolas e institutos educacionais, com o objetivo de promover uma educação ambiental para seus alunos.

Já a RPPN (definida no artigo 21 da lei 9.985/2.000) é uma área privada com o objetivo de conservar a diversidade biológica para a visitação turística, recreativa e educacional, onde não se cobra imposto territorial, e o proprietário pode cobrar pelas visitas à reserva. Uma matéria do Domingo espetacular³, da Rede Record, mostrou uma RPPN de nome Reserva Particular Cristalino, no Mato Grosso, que na verdade é um hotel ecológico de luxo, que só se tem acesso a ele de barco. O hotel é alvo de pesquisas internacionais sobre biodiversidade, sendo metade dos visitantes estrangeiros em busca da biodiversidade, está na lista dos 25 melhores hotéis do setor de ecoturismo no mundo, e possui uma área de 12 mil hectares (o que equivale a 12 mil campos de futebol) de floresta amazônica, e 18 bangalôs totalmente sustentáveis, onde há um sistema de tratamento biológico dos esgotos, com o uso de bactérias especiais, areia e as raízes das plantas que acabam transformando os resíduos sanitários em vapor d’água, e a energia é gerada por painéis de energia solar.

É bem possível que tais alternativas se tornem melhores que a adoção de unidades de conservação públicas, uma vez que muitas se encontram abandonadas pelo poder público, onde faltam guias para os turistas, placas instrutivas para os visitantes e muitas estão cheias de lixo nas trilhas – além de muitos gestores dessas unidades acabarem cedendo diante de conflitos fundiários. Em caso de privatização destas unidades, elas passarão a ter manutenção constante, presença de guias, para orientação dos visitantes, provavelmente quem jogar lixo será multado e a unidade de conservação passará a ser protegida como uma propriedade privada, onde um outro proprietário não vai tocar em terras que já têm dono. E caso toque, o dono recorrerá à justiça.

Um bom exemplo das atividades econômicas que servem de sustento para a manutenção das florestas são as adotadas no Canadá, conforme apresentado por uma série do Jornal da Globo¹¹. Em 2015, o país exportou US$ 33 bilhões em produtos florestais (equivalente a toda a exportação de soja e açúcar do Brasil, que desses dois produtos é o maior exportador mundial), a indústria da madeira gera 195 mil empregos e uma empresa (específica) lá tem permissão para explorar as florestas de uma área equivalente à área do estado de Santa Catarina (apesar da maioria das florestas pertencerem ao governo). Mesmo assim, o desmatamento no Canadá é de 46 mil hectares por ano, o equivalente a 0,02% das florestas, enquanto que, aqui o desmatamento é 17 vezes maior (799 mil hectares).

No Canadá, nenhuma exploração é feita sem acordos com ambientalistas e são feitas com pouca interferência do governo, a exemplo da exploração da Floresta boreal, que tem um acordo de sustentabilidade (Acordo da Floresta boreal do Canadá), assinado em 2010 pelas 19 maiores empresas florestais do país e 6 organizações ambientais. Os ambientalistas canadenses entendem que as florestas não são intocáveis e trabalham junto às empresas para manter o desmatamento sob controle. Um diretor de uma empresa, falando ao repórter, diz que as organizações ambientais não defendem o fim das indústrias, mas que elas funcionem atendendo os valores ambientais.

Devido às exigências desses acordos, as empresas lá reflorestam as matas que elas derrubam, utilizando uma técnica pela qual garantem que, em 80 anos, as florestas que foram cortadas voltarão ao estado que estavam antes, e usam muito a ciência, chamando biólogos e ecologistas competentes para garantir que os seus métodos deem certo.

Para os canadenses, acordos entre as partes funcionam mais do que leis. Para explorar madeira, as empresas têm que entrar em acordo com os povos indígenas das florestas e gerar empregos, sempre que possível. A partir de indenizações que recebeu, uma comunidade indígena canadense, conseguiu criar uma corporação capitalista que controla várias empresas, que vão desde exploração florestal até turismo ambiental (que inclusive acaba protegendo algumas florestas).

Porém, há alguns ecossistemas que os ambientalistas consideram sagrados para proteção de determinadas espécies, como o caribu (um tipo de rena nativa da região), o qual precisa de ecossistemas intactos para sobreviver, de modo que, quando este desaparece, é sinal de que a floresta encontra-se em risco. E por isto alguns ambientalistas defendem a proibição da exploração nos ecossistemas em que eles vivem.

Um exemplo de acordo que deu certo no Canadá foi o da Floresta do grande urso, floresta considerada como lugar sagrado para os índios de lá, que apresenta um grande potencial turístico, sendo uma das áreas mais bonitas do país, e possui cedros milenares, o que atrai as madeireiras. Tal lugar não tem tido facilidade de ser preservado, uma vez que enfrenta a exploração madeireira e a indústria petrolífera. Porém, indígenas e ambientalistas conseguiram fazer o histórico acordo para preservar o local (o Acordo da Floresta do grande urso), onde as madeireiras só podem explorar 15% da mata e sob regras ambientais rigorosas estabelecidas pelos indígenas. Porém, isto só foi conseguido depois de todos se sentarem à mesa para negociarem, onde cada um entendeu o interesse de cada parte na floresta. E mesmo assim, o encontro que levou ao acordo só aconteceu depois de uma campanha de boicote (uma prática bem liberal e comum onde a sociedade civil é bem desenvolvida e atuante) das associações, para que ninguém comprasse produto vindo da exploração na Floresta do grande urso.

A lição que trazemos para o Brasil é que precisamos fortalecer a sociedade civil, tanto ONG’s ambientalistas (aquelas que não possuem fins políticos, e têm compromisso com o meio ambiente e uma economia sustentável) como as associações de povos que dependam da manutenção de um ecossistema, que não são apenas os índios, mas também outros, como comunidades de pescadores (que poderiam defender a manutenção da mata ciliar, para evitar assoreamento do rio que os sustentam) ou mesmo a indústria pesqueira. Também devemos alertar setores que dependam indiretamente do equilíbrio de alguns ecossistemas, como as indústrias, que dependem de recursos hídricos (logo, têm interesse em preservar tais recursos, o que pode garantir com a manutenção de florestas) e empresas de turismo que ganham com a atração turística de praias de corais, uma vez que os corais dependem da turbidez da água, o que pode sofrer impactos, a depender da “qualidade” da água que rios desaguam nas proximidades do balneário. E esta qualidade depende muito das matas ciliares que protegem o rio, as quais dificultam mais a entrada de sedimentos no rio.

Portando, quando tivermos uma sociedade civil forte, conseguiremos promover campanhas de recuperação de ecossistemas e pressionar empresas que degradam o ambiente a praticar um manejo mais sustentável, podendo chegar ao ponto de não dependeremos mais de alguns tentáculos do Estado que fazem parte do Ministério do meio ambiente, como o IBAMA, Agência nacional das águas (ANA), dentre outros que mais servem para aumentar o poder do Estado e o risco do aparelhamento da máquina pública. E com tal aparelhamento, vêm as indicações políticas e as agências reguladoras se tornam meros cabides de emprego. Daí advém as chances de esquemas de corrupção vingarem, havendo cobrança de propina de empresas que têm o interesse de explorar algumas áreas protegidas.

A intervenção e regulação estatal, também aumenta os encargos tributários para sustentar pessoas que vivem sem trabalhar tanto e se tornam dependentes do governo. Ao extinguir órgãos de regulação, o Estado poderá então destinar estes recursos para a Justiça e a segurança, e assim promover um trabalho mais eficiente até no combate aos crimes ambientais (que são as “agressões à natureza” que só se impede com a força da lei), uma vez que teremos uma sociedade civil forte para denunciar tais crimes e uma imprensa livre que, na sua função de “guardiã da democracia” e denunciante de crimes contra a sociedade,  irá aderir a este “loby ambiental” e denunciar em suas matérias os crimes ambientais. O Estado, através da Justiça, terá a função única de investigar e julgar os crimes.

No entanto, nós que temos uma visão liberal, precisamos ter uma cautela quando falamos de “fortalecer associações representativas de ‘povos minoritários’” (como no caso dos indígenas, e comunidades de pescadores, etc.). Devemos nos preocupar primeiro em “fortalecer os indivíduos”, promovendo a autonomia deles (capacitando-os para conseguirem um meio de se sustentarem, se conscientizarem e organizarem-se politicamente), fazendo o poder vir “de baixo para cima”, e não como a esquerda faz ao colorarem suas ONG’s como guardiãs daquele povo, onde monopolizam a representatividade deles e se tornam braços de partidos políticos, prometendo “empoderá-los”, mas fazendo o poder vir “de cima para baixo”, manipulando-os e enganando-os com promessas apenas para conseguirem o poder. Porém, devemos estar conscientes de que este processo não será tão rápido devido ao fato de que o brasileiro não tem essa cultura de buscar a sua autonomia. Sempre as classes mais pobres dependeram de elites, e então nós esperamos que o poder venha “de cima para baixo” mesmo (conforme fala o historiador Marco Antônio Villa).

Outra estratégia ambiental, mais eficiente do que criminalizar algumas atividades prejudiciais à natureza, é buscar benefícios econômicos nas atividades sustentáveis, e mostrar para o empreendedor que ele ganhará mais investindo nesta atividade do que na tradicional, como acontece com tecnologias mais modernas e sustentáveis, as quais serão citadas em um outro artigo nesta plataforma, com mais destaque para o tema.

No entanto, os ambientalistas deveriam deixar de esperar que as respostas para as necessidades ambientais venham do governo. Deveriam agir como o prefeito de São Paulo (SP), João Dória, recorrendo a quem tem dinheiro (os empresários) para financiar projetos mais urgentes e colocarem em prática mais rápido tais estratégias. Os setores liberais da sociedade deveriam mostrar que o capitalismo não é um vilão em essência da degradação da natureza, mas que ele pode ajudar na transformação e com muito mais eficiência, inclusive, além de conscientizar as empresas sobre sustentabilidade, ensinando ainda que é uma oportunidade investir nisto, ganhando mercado ao aderir ao “loby ambiental”, conquistando a simpatia da população, que está sensível a esta causa, e de acabar combatendo também os “ambientalistas melancia” (os que se travestem de verde ambiental, mas no fundo a sua estratégia com suas “políticas ambientais” é ideológica, esquerdista, globalista e anticapitalista). E a melhor forma de combater a ideologia esquerdista e retrógrada pregada por essas ONG’s e partidos de esquerda é mostrando que não há razões para eles existirem. Porém, o principal desafio nosso é fortalecer as associações representativas das comunidades que dependem de um ecossistema, para então elas mesmas, por iniciativa própria, protegerem os recursos naturais que são de seus interesses.

Com isso, concluímos que as metas das causas ambientais serão alcançadas com mais eficiência quando elas se tornarem um estímulo à economia ao invés de empecilho, como sempre acontece com as inovações tecnológicas, que nas mãos da iniciativa empresarial se espalha na sociedade de forma explosiva. E isto só será possível quando mostrarmos aos empresários e outros grupos da sociedade os benefícios econômicos que eles alcançarão a partir de um ecossistema e meio ambiente preservados, e não recorrendo à ineficiência do Estado, que cria mais leis e só aumenta as burocracias e a máquina estatal, o que desestimula as atividades econômicas e abre margem para corrupção. Além disso, acaba não se cumprindo o que se pretendia com a ampliação da legislação, uma vez que as coisas andam mais quando há incentivo do que quando só há imposição.

 

ARTIGO de Marcus Vinícius Ramos – Graduando em Engenharia Florestal (UFS)

Fontes:

¹ Artigo retirado da seguinte página da internet:’

http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,agricultura-lidera-preservacao-no-brasil,70001826064

²Reportagem retirada da seguinte página da internet:

https://www.youtube.com/watch?v=J1QvUSjAI4A&t=265s

³ Reportagem retirada da seguinte página da internet:

http://noticias.r7.com/domingo-espetacular/videos/-alvaro-garnero-se-aventura-no-coracao-da-floresta-amazonica-02102016

¹¹ Série de reportagens do Jornal da Globo, conseguida nas seguintes páginas da internet:

http://g1.globo.com/jornal-da-globo/edicoes/2017/01/02.html#!v/5551545

http://g1.globo.com/jornal-da-globo/edicoes/2017/01/03.html#!v/5553994

http://g1.globo.com/jornal-da-globo/edicoes/2017/01/04.html#!v/5556575

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